quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A importância do jornalismo de bairro


Durante os anos de 1823 a 1835, existiu no país um jornal chamado O Sentinela da Liberdade que, forçosamente, era produzido dentro das antigas cadeias do Brasil colonial. Não que isso fosse uma característica própria, mas consistia exatamente na localização onde estava detido o seu editor, o inquietante jornalista Cipriano Barata. Diplomado em Matemática, Filosofia e Medicina, passou boa parte da sua vida na prisão. Em cada cárcere criava o seu periódico a favor da independência do país contra a influência da Corte portuguesa. Assim surgiu o nome O Sentinela da Liberdade da Guarita, complementado com a localização da cadeia onde ele estava preso. O ideal jornalístico de Barata estava acima de qualquer impedimento físico, voltado para a informação e conscientização de uma população local que necessitava de esclarecimentos sobre a política e os aspectos sociais que os envolviam. Quase dois séculos após Cipriano Barata ter criado o seu Sentinela da Liberdade, as idéias e os ideais de um jornal voltado para uma população específica e regional continuam prevalecendo nos dias atuais, sob a responsabilidade de profissionais que assimilaram a própria essência do que é praticar jornalismo com responsabilidade social.
No dia 04 de dezembro de 2007, o estudante de jornalismo Wenderson Cardoso apresentou a monografia final para a sua graduação acadêmica pela Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte. Diante de uma banca formada pelo professor-mestre Marcelo Freitas e pelo coordenador do projeto monográfico, o professor-doutor Romildo Raposo, Cardoso defendeu a sua intelectualidade.
Construída sobre uma experiência pessoal de quase 19 anos no segmento jornalismo de bairro, a monografia apresentada trouxe como tema A influência social do Jornal Criart-Vida no combate às drogas na região do Barreiro. Basicamente, refletiu sobre a proximidade do jornal de bairro junto aos problemas e a realidade da comunidade, proporcionando uma oportunidade para que cidadãos carentes sejam ouvidos através de uma espécie de ponte ou elo entre a comunidade e os poderes públicos. No caso específico do Criart-Vida, o jornal – além das características próprias desse modelo de veículo – é direcionado ao combate às drogas que envolvem o comportamento dos dependentes químicos, divulgando programas para se evitar o uso e a conscientização dos malefícios causados por elas. Em suas páginas, o jornal também possui editorias sobre o meio ambiente, responsabilidade social, saúde e outros assuntos voltados para o bem estar da população do Barreiro. A grande dificuldade encontrada por Wenderson Cardoso para a montagem da monografia foi o embasamento teórico, visto que há pouco material didático sobre o assunto. Conforme apurado por ele, a única especialista na área é a pedagoga e psicóloga Beatriz Dornelles, que se especializou nesse segmento na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. As informações para o projeto monográfico foram colhidas através de artigos e trabalhos elaborados por ela. Realizada a monografia, o aspirante a bacharel relembrou os momentos de apreensão diante da banca examinadora. “É muito difícil estar ali e não ficar nervoso. Passava um filme na minha cabeça. Toda a minha vida e todo o meu esforço estavam ali para serem julgados. Graças a Deus que tudo correu muito bem”, sorrindo aliviado pela aprovação de sua obra.
Wenderson Cardoso, desde o ano de 2000, participa como proprietário de um jornal de bairro, o Imprensa Global. Segundo afirma, “o jornal de bairro não é seu. Você junta com pessoas que dividem essa mesma ideologia do jornalismo de bairro e constrói a imagem do veículo. Por isso que apenas ‘participo’ da direção do jornal”, enfatiza. Cardoso ingressou na faculdade em 2004 para ter o direito de exercer o jornalismo de forma reconhecidamente acadêmica, já que possui o registro profissional mantido através de liminar judicial.
De auxiliar de necropsia a jornalista, Wenderson Cardoso pode ser comparado a uma espécie de Cipriano Barata do século XXI, com exceção do envolvimento com o cárcere ou com débitos judiciais. Assim como o próprio, também é formado em Ciências Físicas, Químicas e Biológicas. Essa qualificação proporcionou exercer a profissão de professor de Matemática, Física, Química e Biologia pelo Estado de Minas Gerais. Além de educador, Wenderson Cardoso formou-se em mecânico de aviões pela Polimig, chegando a trabalhar como especialista em estrutura de aviões em elétrica, eletrônica e pneumática para aeronaves. Também possui curso de aviador e brevê de piloto.
Após o falecimento do seu pai, Cardoso desistiu da carreira na aviação e passou a se dedicar ao cinema. Na nova empreitada, formou-se em roteirista e diretor cinematográfico, tendo produzido três curtas-metragens.
A primeira oportunidade em um jornal que não fosse administrado por ele mesmo aconteceu no Edição do Brasil. Ao ler uma placa na rua com os dizeres “Edição do Brasil: Jornal de Clube” teve logo o insight de entrar e ver como era a redação. Atendido pelo jornalista Arthur Ferreira, pediu logo uma oportunidade para fazer um estágio, já que estava matriculado e estudando o segundo período de jornalismo na Faculdade Estácio de Sá. Como já esperava, foi aprovado em um teste prático e passou a assinar matérias para o veículo. Atualmente, Wenderson Cardoso é proprietário da agência de notícias Newsmaker Brasil e editor responsável pelo jornal Minas Editorial, veiculado em 20 cidades do estado de Minas Gerais.
Sobre a conclusão do curso de jornalismo, Cardoso é categórico: “a faculdade não faz um jornalista. Ele é um profissional por essência. O fascínio pelo jornalismo já está dentro dele, corre em suas veias. A faculdade apenas oferece o suporte técnico e ideológico para ele se aperfeiçoar sob um modelo ético de praticar o jornalismo de forma profissional”, analisa, refletindo como exemplo, a própria experiência adquirida com os jornais de bairro que produziu.
(CS)

Fotografia: Claudinei Souza

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